Poi Zé. Essa história de separatismo estava meio de lado até o Parti Québécois voltar ao poder, partido este que foi fundado pela fusão dos principais movimentos separatistas québécois em 1968. Agora o assunto voltou à tona e enquanto agrada uns, incomoda vários outros.
Tudo começou no começo, claro! A colonização da América do Norte não hispânica começou aqui em Québec pelos franceses, que foi chamada de Nouvelle France/Nova França. Posteriormente, os ingleses dominaram os franceses depois de anos de guerras.
Para dar o tom de quão sério o assunto já chegou a ser, em 1970, o Front de Libération du Québec/Frente de liberação do Québec sequestrou e matou o ministro provincial Pierre Laporte no evento chamado Crise de outubro, que colocou o exército nas ruas de Montréal.
Fizeram um referendum em 1979 e perderam para os federalistas que tiveram cerca de 59% dos votos. Já em 1995, o segundo referendo foi mais tenso. Dessa vez, os separatistas perderam por apenas 1%.
Reza a lenda que houve um êxodo de empresas de Montréal preocupadas com a possibilidade de separação. Reza outra lenda também que o aeroporto Mirabel, o segundo de Montréal, já tinha terras desapropriadas para ser transformado no grande concentrador do país, mas o governo federal mudou para Toronto, bem como outros investimentos para "cortar as asas" do Québec e deixá-lo mais dependente. Quando digo que reza a lenda é porque eu li ou ouvi, mas não tenho nem certeza, nem a fonte.
A volta do PQ ao poder reacende as discussões e receios associados à essa tensão social histórica. Um simples simbolismo usado por esse partido na cerimônia de tomada de posse, que foi a remoção da bandeira do Canadá da sala do parlamento onde foi realizada já causou muita crítica.
Outra bandeira do PQ (juro que o jogo de palavras foi sem querer) é a defesa da língua francesa, que pretendo detalhar melhor em outra postagem. Eles pretendem reforçar a lei 101 que define que o francês é o idioma oficial que deve ser usado no estado, no ensino, trabalho, comércio, negócios, etc. Isso é mais um motivo de insegurança em um grupo social particular, que são os québécois anglófonos. Digo particular porque são uma minoria em uma província francófona de 8 milhões de habitantes, dentro de um país majoritariamente anglófono de 34 milhões de habitantes somados aos 314 milhões de vizinhos estadunidenses. São a minoria da minoria.
Sim, mas quer dizer que o Québec agora vai virar um país independente? Acho difícil. Na minha humilde opinião, o PQ vai preparar terreno para fazer outro referendo se e quando achar que tem chances. Se isso acontecer, acho difícil mas pode ser que consigam mais de 50%. A maioria já viu o prejuízo econômico que isso causaria e não simpatizam com a ideia. Vale ressaltar que o Québec recebe uma boa grana do governo federal, seu perfil de endividamento é comparável ao de países problemáticos da Europa e teria novas despesas a arcar depois de ter sua autonomia.
Mas se der maioria do "sim" no referendo, o Québec se separa, né? Não é assim tão fácil. Eles iriam negociar junto ao governo federal que obviamente não quer perder a província de maior extensão territorial, um quarto da já reduzida população do país, recursos naturais, uma via de transporte fluvial estratégica e ainda de cara deixar as províncias do Atlântico separadas do resto do país com outro país no meio. Também, 51% não é nada expressivo para uma decisão tão drástica. Para ter representatividade, teria que ser a opinião de uns 75% dos québécois a meu ver.
O que me incomoda não é a separação, mas a perturbação que o PQ vai causar na tentativa disso. Por exemplo, já vejo mais discussões enérgicas entre anglófonos e québécois nos comentários de notícias. Os analistas dizem que provavelmente a Pauline Marois vai fazer uma série de exigências de mais autonomia ao governo federal que, obviamente, vai negar. Essa negação deverá ser usada como combustível para inflamar o sentimento de necessidade de soberania.
No mais, estimam que o seu governo minoritário não dure muito porque os partidos de oposição vão se preparar e quando tiverem alguma boa oportunidade, vão pedir novas eleições e pode ser que o PQ caia novamente.
Mas se mesmo assim tudo acontecer fora do que eu prevejo e o Québec se tornar um país independente, eu tenho uma solução: imigrar para o Canadá!!! Já fizemos isso uma vez e possivelmente poderiamos fazer novamente!