Como disse na postagem da
parte I, o sistema de saúde canadense é sempre algo bem polêmico. Tem gente que diz que é péssimo, tem gente que diz que é suficiente, tem gente que diz que é bom, etc. A conclusão que eu cheguei já faz muito tempo é que é tudo isso pois varia com diversos fatores como, por exemplo: gravidade do problema, o próprio problema, cidade, dia, horário, local de atendimento, profissional que atende, referencial de experiências anteriores, etc.
Na verdade, o sistema de saúde que considero é tão abrangente que começa em casa. Uma alimentação saudável aliada a atividades esportivas (viva a patinação!) colabora muito na prevenção de doenças. Ao menos no inverno, vitaminas e tomar água de tempos em tempos também previne. Tenho uma garrafa no trabalho para evitar ficar com a garganta seca por causa da baixa umidade. Mesmo assim, quando a garganta começa a reclamar, uso pastilhas Cepacol (aqui não tem própolis) para cortar logo no começo. Quando o problema é no nariz, um spray de solução salina regularmente lava tudo e faz milagres.
Depois de um ano e nove meses posso dizer com mais segurança que apesar do rigor do clima canadense, adoecemos consideravelmente menos que em Fortaleza. Mas, inevitavelmente, adoecemos. Nessas horas, começamos o diagnóstico em casa mas com o devido cuidado de não ultrapassar nossa capacidade e responsabilidade, afinal, não somos profissionais. Depois, vamos subindo a escala de acordo com o que acontecer.
Vou contar outro caso prático para ilustrar um exemplo de utilização dos vários recursos do sistema de saúde. O Davi teve uma febre leve. No começo, não é fácil saber a causa. Já tendo sido recomendado de outra situação, demos um antitérmico chamado Advil que temos em casa. Aqui em Québec não tem farmácias 24 horas, logo, é bom ter alguns remédios que possam ser úteis até o dia seguinte.
Passados três dias com alternância entre febre fraca e ausência de febre, ele começou a ficar com a secreção típica das sinusites e a professora dele disse que tinha mesmo um virus rondando a escola. Para que ele possa dormir melhor, almofadas em baixo do colchão para deixar a cabeça mais alta como recomendado por uma enfermeira da emergência da outra ocasião.
Mas na escola, ele dorme na horizontal e acabou acordando com dor no ouvido. Chegando em casa, liguei para o Info-Santé Québec, no número 811. A enfermeira do atendimento fez várias perguntas e chegou à conclusão que eu suspeitava: do jeito que estava não era caso de emergência. Disse que o Advil aliviaria e recomendou um pano quente ou frio para ajudar, o que desse mais resultado. Mas se piorasse, disse ela, leve-o à emergência. Perguntei se seria indicado o CHUL, onde levei da outra vez e ela confirmou. Enquanto eu ligava, ele estava cada vez melhor, logo, poderia dormir tranquilo.
No dia seguinte, poderia levá-lo a uma clínica que fica no Place de la Cité, mas preferi o médico de família. Em geral, ele atende com
rendez-vous/hora marcada, mas também atende sem, sujeito a espera maior ou mesmo não ser atendido. Cheguei às 13h30 e o consultório abria às 14h00. Fui munido de carrinhos, livros, água e comida e passamos bem as três horas de espera (desde as 13h30), já que não tive como marcar um
rendez-vous. De fato, ele tinha uma tudite (rinite, laringite, faringite, e tudo mais...) e o médico passou o antibiótico.
Ao comprar o remédio, o farmaceutico sempre explica muito bem como administrar o medicamento e às vezes dá até uma folha de instruções. Me perguntaram se eu tinha um
assurance medicaments/seguro medicamentos privado ou se usaria o do plano de saúde público. Mostrei a carteirinha do seguro complementar fornecido pela empresa e o preço do remédio caiu de 25,75$ para 2,58$.
A informação tem um papel importante nessa área e algumas pessoas têm más experiências também por mau uso do sistema de saúde. Experimentando e conversando, pegamos macetes e fazemos o melhor uso possível do que está ao nosso alcance. Mesmo sabendo que o sistema não é perfeito, até agora não tive maus relatos na nossa cidade. E o Davi está novamente derrubando a casa!