domingo, 28 de março de 2010

Arrêt Davi!


Com três dias de escola, já ouvi a Lara dizendo "Arrêt, Davi!/Pare Davi!". Epa! Isso eu não ensinei! Quando perguntei, ela me disse que as suas amigas dizem isso umas às outras durante as brincadeiras no pátio. E logo na segunda semana, começaram as aulas individuais de francês para extrangeiros. É o que se chamam de francisação. Ela disse que a professora usa jogos como o de memória para ensinar brincando. Do outro lado, a professora da primeira série ensina que o som do ô pode ser feito com "au", como em l'eau/a água, ou com a própria letra "o" como em vélo/bicicleta.
Agora em posso ensinar francês a ela em casa também. Ai vocês se espantam: Ué! E você não estava fazendo isso durante esse tempo todo? Não estava, mas tem uma explicação. O professor de francês Ruy, que também é conselheiro e consultor, havia explicado que não valia a pena tentar ensinar francês às crianças em um ambiente não francófono. O que se faz é ensinar palavras por repetição, mas elas não têm nem motivação, nem volume de informação suficiente para inferir as regras do idioma. Por outro lado, uma vez imersos no ambiente do idioma, eles evoluem muito rápido.
Tivemos um caso parecido: o Davi não queria aprender a falar, mesmo com a nossa insistência. Ele ficava sem comer bombons porque não respondia um simples sim e ficava só fazendo ã, ã. Depois que entrou na escola, viu as outras crianças falando e a necessidade da comunicação, e daí foi rápido.
Voltando ao caso da Lara. Os desenhos animados não são suficientes para incentivar o aprendisado, porque são muito visuais. Quando muito, ajudam a "sintonizar" o ouvido para os novos fonemas. Agora que ela passa uma boa parte do dia convivendo com pessoas que falam francês, ela despertou para o aprendisado. E em casa, eu falo primeiro em francês e depois em português. Aqui e acolá faço alguma explicação simples.
Agora é só esperar para colher os frutos.

Chegou a primavera!




Desde o 20 de março entramos na primavera aqui do lado de cima da linha do Equador. Tivemos uma mudança abrupta no clima, que pode ser percebida nas fotos e no vídeo deste post. A paisagem ficou do jeito que eu gosto, bonitinha.
Vocês estão pensando que eu errei as fotos e o vídeo, não é? Pois não errei não! A neve tinha praticamente desaparecido e a grama reinava. Passou uns dois dias nevando e juntou acho que mais de 20cm de neve, embora a temperatura média estivesse nos agradáveis zero graus. Ficou tudo branquinho novamente. Depois da passagem desse "sistema" (jargão meteorológico), veio o sol! Aí sim, ficamos na primavera, não é? Nada! A temperatura caiu de +10 para -14 graus em apenas 14 horas. Isso mesmo! 24 graus em 14 horas! E a sensação térmica estava de -22 graus. Ou seja, de sensação, caiu 32 graus. Ficamos com frio de inverno, embora não seja o mais frio que faz no inverno. Um cara na rua que esperava o sinal de pedestres comigo comentou: "Frette comme l'hiver, uhh?/Frio como o inverno, não?" Frette é regionalismo daqui do Québec.
Eu quase saí do trabalho nesse dia para ir pegar a Lara na escola, porque o vento estava com rajadas de 60Km/h e com esse frio todo. Conversando com uma colega e mãe que tem filho na escola, ela disse que a escola não estava fechada, então não era caso de emergência. Confiamos e tratamos como normal. Eu fiquei de coração apertado, mas a Mônica disse que a Lara estava na boa, brincando no pátio (externo) da escola e o Davi parava para ficar tirando a neve de todo carro que ele passava perto. Pense numa figura! Ou seja, não estavam nem aí para o frio. Quem bom! Ainda bem que me preocupei a toa.
Hoje, uns 4 dias depois da queda de temperatura, voltamos aos 6 graus e a previsão agora é subir até 20 na próxima semana. Só que vai demorar um pouco para a grama ficar mais verde e as flores colorirem a cidade. Para não dizer que nada mudou, antes só se viam corvos no céu. Agora apareceram umas gaivotas brancas para contrastar.
O vídeo foi feito na nossa caminhada matinal até a escola da Lara. Dá uma noção melhor da vida daqui no inverno do que as fotos.
A propósito, subi os quase 100 degraus de l'escalier de la Pente-Douce/A Escada da Ladeira Suave (nome da rua. Pegadinha de falsos cognatos, né?) e andei mais 600 metros de subida até a nossa casa. Parece mentira, mas a -6 graus eu tive que tirar as luvas e abrir o casaco até o fim para não ficar suado do calor que fazia! Por outro lado, se ficarmos parado por muito tempo, dá frio de adormecer e doer nos pés e mãos. É mais outro fator do frio.



Neige de printemps

segunda-feira, 22 de março de 2010

Red Bull Crashed Ice 2010




Eu estava morto de alegre depois da patinação por começar a aprender a freiar raspando o gelo derrapando e derrepente vem o Red Bull Crashed Ice 2010 em Québec. É uma competição radical onde quatro patinadores descem uma pista cheia de ladeiras, ondulações, saltos e curvas fechadas para ver quem chega primeiro. Às vezes, ganha quem consegue chegar! Os caras são muito habilidosos, mas só participa quem não tem juízo. Tem uns que passam direto na curva, batem com força na lateral de acrílico e lá mesmo ficam.
Eu queria muito ver pessoalmente e gravar, mas as minhas pernas estavam bem cansadas. Já estou vendo vocês dizendo que estou ficando velho. Pelo contrário: é que tenho que ficar patinando agachado para segurar o Davi no suporte e isso força muito as pernas e as costas. De qualquer forma, foi transmitido pela televisão e pude acompanhar. E foi no mesmo dia da parada de Saint-Patrick.
Encontrei esse vídeo no Youtube, mas talvez apareça outro melhor. Para quem quiser treinar o francês ou ver como estava lotado de gente no Chateau Frontenac, podem ver desde o começo. Para quem quer somente ver como é louco, podem avançar o vídeo para a posição 2:20 (2 minutos e 20 segundos).
Acho que ainda não dá para eu participar, mas se puder frear raspando bem muito o gelo como o pessoal faz, já ficarei realizado. Principalmente se for sem cair!

domingo, 21 de março de 2010

Lara à l'ecole


E mais uma vez a estória se repete. Quarta-feira, 08h15, École Anne-Hébert. Nós vamos deixar a nossa filha em uma escola desconhecida, cheia de gente desconhecida, sem falar nada de francês e ninguém fala português! Perguntei se tinha alguém que falasse ao menos espanhol na turma dela para facilitar a comunicação e acharam uma menina em uma turma bem mais adiantada. Ai, ai, ai! E se ela precisar de alguma coisa? Vai ficar igual surda-muda! Ela vai se isoladar no canto da sala, achando a aula um saco e nunca mais vai querer voltar para a escola! AAAAHHHHHH!!!!!!!
Sabem, né. Pai é pai! (no sentido de pai ou mãe). Quando digo que mais uma vez a estória se repete é porque já tivemos notícias de outros pais imigrantes que passaram por situações parecidas. Não aconteceu nada disso!
Por ironia do destino, a primeira aula da Lara no Québec foi de inglês! Foi bom pois nivelava mais à situação das outras crianças, porque é um ensino de uma língua não materna para todos ou ao menos a grande maioria da turma. Fomos ao refeitório para conversar sobre o almoço. Avisamos que ela não fala francês e a senhora, como todos os demais da escola, foi muito simpática, prestativa e atenciosa. Ela disse que não teria problema. Elas iriam mostrar as opções, pedir para que ela apontasse e usariam gestos. E como tem mais de uma opção e as sobremesas, fiquei mais despreocupado, porque a Lara é muito problemática para comidas. Acho que vai ser a oportunidade de ela ser mais flexível, até porque a variedade de cardápio é muito maior que no Brasil.
De volta à sala, para explicar a ela como iria ser, ela estava lá, bem à vontade e sorridente.
- Olha! A professora me deu esta tarefa e pediu para pintar. Adoro pintar! A tarefa é muito fácil.
Expliquei tudo e ela nem esperou pelo final.
- Tá, tá! Tenho que voltar para continuar a tarefa.
Quando cheguei em casa, ela contou que a aula foi legal, que já tinha feito três amigas e que as outras crianças a receberam muito bem. Disse que faziam muitas perguntas mas ela não as entendia. Ai a Maria, a menina que fala espanhol, avisava que ela não falava francês e dizia o nome dela. Depois de um tempo, as crianças ficaram dizendo "Lara, Lara, ..." em coro. A professora fala francês, inglês e espanhol, o que dá uma boa bagagem para entender os cognatos do português. Eu disse à Lara para, quando precisar, falar em português devagar e bem explicado.
Na quinta-feira e na sexta-feira, ela também disse que gostou, brincou de bonecas com uma amiga, todo dia come alguma coisa, mesmo que eu saiba que não come tudo, mas completa com uma sobremesa.
A parte ruim é que o correto seria ela ter quatro aulas em dias diferente, somente de francês para quem não fala ainda (francês como segunda língua) e somente depois começar na aula normal. Infelizmente, estava demorando muito para conseguir uma professora específica e a coordenação achou melhor ela começar logo. Não é tão grave porque todos dizem que as crianças aprendem muito rápido, mesmo dessa forma. E também, agora ela está finalmente imersa no ambiente francófono e assim, posso começar a ensinar em casa porque agora vai funcionar. Antes, era mesmo que eu ensinar estando no Brasil: não funciona. O nosso professor de francês de Fortaleza já havia explicado isso.
Até o Davi que ainda não está na garderie/creche hoje saiu espontaneamente com um "vatu nuá" (voiture noire/carro preto, pronuncia-se mais ou menos como "vuature nuár'). Estou ensinando a ele as cores e, como ele adora carros, estou usando-os como exemplo.
Ainda não dá para avaliar a escola em outros aspectos, mas a estrutura dela é de escola privada boa do Brasil. E a atenção, gentileza, simpatia, educação e o interesse de todos que trabalham lá não tem comparação. E olhem que é pública e gratuita!

Parada de Saint-Patrick


Parade de Saint-Patrick

Para quem não conhece Saint-Patrick (e eu me incluo!), ele foi um mártir dos irlandeses. E estes se espalharam pelo mundo (diáspora) não sei por qual causa. O fato é que no mundo todo eles comemoram o dia de Saint-Patrick e aqui não poderia ser diferente. O vosso correspondente da Rede Imigrantes Brasileiros em Québec foi lá e conferiu a parada de Saint-Patrick, inclusive, dessa vez com vídeo. A super câmera é show! Ela gravou um vídeo de alta resolução (1280 x 720) com 30 quadros por segundo de alta qualidade. Porque eu estou contando isso? Porque o Windows Movie Maker que usei para a edição dos trechos de vídeo não tem essa opção, então ele reduziu a qualidade dele. Vou procurar melhorar a edicão dos vídeos para que vocês, agora também telespectadores, possam se sentir mais presentes aqui. Também peço desculpas porque às vezes o vídeo está tremido. É porque subi em um poste e tive que ajustar zoom, começar e parar apenas com a mão gelada sem luvas, do braço que ficou muito tempo estendido e com vento. Também peço desculpas por perder algumas partes da parada devido a problemas logísticos com o material de patinação e com as crianças.
Essa parada, como a de carnaval, tem toda uma estrutura de sinalização antecipada, de fechamento das ruas, acompanhamento policial, corpo de bombeiros, ambulancias, etc. É muito bem coordenada. Um carro conseguiu furar a barreira (acho que saiu de algum estacionamento da rua fechada) e logo o carro da polícia o abortou. Porém, o guarda conversou sorridente e apenas lhe avisou do que se tratava.
Nós fizemos um programa duplo sensacional. Curtimos o último final de semana de patinação e acompanhamos a parada que passou por lá, na Place d'Youville. Vocês vão ver que ouvir as gaitas de fole irlandesas tocadas pela banda que usava os saiotes (os homens!) tendo como fundo a muralha medieval de Vieux-Québec é mais um passeio na máquina do tempo da "Branca de Neve". Também tem carros de várias décadas atrás, ressaltando a importancia das famílias mais tradicionais que participavam, desde os bebês aos patriarcas mais idosos. Também tinha participação de escolas irlandesas, times de futebol, gente mostrando uma dança tradicional e muita euforia da platéia.
Fiquem com as fotos e agora com o vídeo.

Alexei Aguiar, correspondente da Rede Imigrantes Brasileiros, Québec.




domingo, 14 de março de 2010

Curiosidades aleatórias

 Essa é uma coleção de curiosidade que vinha juntando para ficar em um mesmo post.

Quando cheguei aqui, dia 15/jan, o sol nascia às 07h30 e se punha às 16h30. Depois de somente 20 dias, o sol já nasce às 07h00 e se põe às 17h00. Me disseram que no verão, chega a ficar claro em plenas 21h00 da "noite". No inverno ao meio-dia, o sol fica bem inclinado e fazendo sombra lateralmente, o que dá impressão de ser cedo da manhã ou tarde da tarde.
Quando está mais frio, não neva. A neve aparece quando a temperatura está mais próxima de zero graus. A temperatura de congeladores de geladeiras é de aproximadamente -18 graus. Embora seja bem raro, a temperatura aqui pode chegar a -30 graus. Porém, pode fazer até +35 no verão. Nevou em pleno verão em Calgary.
No inverno, é obrigatório usar pneus de neve e freios ABS são padrão há muitos anos. Quando ligamos o carro, o farol já fica acesso, sem podermos apagá-lo, salvo se o controle for automático. Aqui, podemos dobrar a direita avançando o sinal vermelho, a não ser que tenha uma placa dizendo que é proibido. Nós mesmos abastecemos os carros e podemos pagar com cartão passando na bomba de combustível. Existem 3 tipos de gasolina de qualidade tão boa que um Corolla 1.8 chega a fazer 16Km/l na cidade. Isso por volta de 1$ por litro. O Celta 1.0 mais barato é mais ou menos do preço de um Honda Civic ou Toyota Corolla 1.8, sendo ambos zero quilômetro.
Os fogões são elétricos e normalmente têm temporizador (timer). O frio faz com que usemos aquecedores, que ressecam o ar. E o ar seco evita a proliferação de ácaros, fungos e outros agentes alergolépticos. E é mais fácil aumentar a humidade do ar seco que baixar a do ar húmido. Basta usarmos um humidificador e ajustarmos para o valor mais saudável.
Atualmente, tem mais imigrantes em Toronto que nativos. O inglês daqui é bem parecido com o dos EUA, mas o francês chega a ser diferente ao ponto de ter programas com legenda para os franceses. Quase 30% da população de Vancouver é de chineses (censo de 2006). Tem 4,5 horas de diferença de fuso-horário entre a costa oeste e leste do Canadá. Repare que tem um fuso-horário de somente meia hora de diferença entre os 5. Aqui o horário de verão dura a primavera, verão e outono, ou seja, é horário de não inverno.
Usa-se frequentemente só o primeiro nome e o último nome. Assim, meu nome oficialmente em documentos deixou de ser Alexei Barbosa de Aguiar para ser somente Alexei Aguiar. Porém, como dá muita ambiguidade (não com o meu nome, claro!), alguns cadastros pedem o sobrenome de solteiro da mãe que, no caso, foi justamente o que foi suprimido do meu nome.
Se você comprar algo e simplesmente não gostar, pode devolver em até acho que 30 dias. Da primeira vez eu tentava explicar o porque e a mulher não queria saber. Realmente, eles só querem saber do cupom fiscal e do cartão para fazerem o reembolso do dinheiro. Isso é bom porque obriga o fabricante e as lojas a terem bons produtos, senão eles voltam.
Muitas salas não tem instalação elétrica para iluminação no teto. Usa-se lampadaires/abajours compridos para iluminar o teto e as paredes. É tão proposital e cultural que aqui no nosso apartamento tem um interruptor que liga e desliga as quatro tomadas de uma das paredes, enquanto todos os demais cômodos têm luminária no teto.

Vamos patinar?




Patinage

Vou começar de uma forma meio esquisita. Perguntei ao meu chefe como iriam fazer a pista de gelo do Redbull Crashed Ice agora em março, já a temperatura estava positiva. Ele me respondeu: Com dinheiro! Vão resfriar a pista toda! E é devido a este recurso bancado pela prefeitura que estamos patinando na patinoire/pista de patinação da Place d'Youville, na entrada de um dos portões da muralha de Vieux-Québec. Como pegamos somente o fim do inverno para começar este lazer, estamos indo todo sábado enquanto a pista está funcionando ainda nesse mês. Lá tem patins para alugar por 6$ por dia, bem como suporte para as crianças aprenderem por 4$. Acho muito barato porque tem uma parafernália pesada para resfriar a pista, que é grande, tem funcionários para alugar o material, manter a estrutura de bebedouros, banheiros, vestiário, e tem um veículo que recupera o gelo quando está muito irregular.
A primeira vez que a Lara patinou foi ainda em Fortaleza. Estavamos perto de vir para cá e quisemos ter um gostinho do nosso lazer futuro. Nesta vez, ela aprendeu a ficar em pé, que já é muito difícil. Na segunda vez, aqui, ela aprendeu a andar, embora devagarzinho. Hoje, que foi a terceira vez, ela já dá impulso com o pé direito para trás e para o lado e desliza legal. Já dá para fazer a volta na pista. E também já aprendeu a se levantar sozinha, o que é muito útil. Descobrimos para que servem os glúteos!
Já o Davi!!! Ai ai ai! Ele cai pra caramba no chão normal e descalço. Imagine no gelo! Esse vai dar muita dor nas minhas costas. Alugo o suporte e vou empurrando-o ao menos para ele curtir. Ele só diz: rápitu, rápitu, papai! E ainda conseguiu uma vez virar o suporte, bater nos meus pés e nos derrubar!
A minha prima Alessandra comentava nas olimpíadas de Vancouver que os atletas têm as pernas muito grossas. Não é para menos. Ficar com joelhos flexionados força bastante os músculos da coxa. Eu fiquei banhado de suor a quatro graus e fiz a besteira de tirar o casado. Um senhor parou e me recomendou colocá-lo. Eu disse que estava com muito calor e ele disse que era melhor o calor que uma gripe. De fato!
Encontrei uma boa solução. O super casaco tem duas camadas. Tirei a de dentro que é a mais aquecida e fiquei com a de fora. Inclusive, cada camada pode ser usada sozinha como casaco! O pessoal daqui é muito gente boa. Uma senhora deu umas dicas para a Lara e se ofereceu para levá-la segurando, mas ela acha melhor desenvolver o equilíbrio sozinha. Diz a Lara que entendeu o que ela falou em francês. Acho que por causa dos gestos e dos cognatos.
O meu desafio é aprender a freiar derrapando e raspando o gelo com os dois patins. Acho muito legal, mas é uma excelente oportunidade para cair. Por enquanto, quando erro, dou um giro, apoio as mãos no chão e vou escapando. Mas eu sei que cair faz parte. Todo mundo aqui cai, até os senhores mais experientes que também patinam.
Só não é mais legal porque a Mônica quebrou a perna com patins de rodas inline há muito tempo atrás. Não estamos muito a fim de inaugurar o sistema de saúde canadense, então ela fica só olhando e servindo de suporte técnico.
Em outubro vai começar outra vez a temporada de patinação e estaremos lá novamente. Quem sabe não teremos um goleiro de hockey (o Davi tem muita flexibilidade e esta é necessária para fechar o gol) e uma atleta de patinação artística.

domingo, 7 de março de 2010

Querem me infartar!


Acabei de fazer o checkup do coração, só que não foi em um cardiologista. Foi na prática mesmo.
O primeiro susto foi assim. Fui pegar a mochila no armário do corredor de entrada, onde guardamos as roupas de inverno. Estava escuro pois era noite. Quando a mochila bateu na roupa, eis que subo a vista e me deparo com a roupa de frio da Lara, toda arrumanda como se tivesse vestindo uma pessoa. O que dava mais realismo eram as botas presas por dentro da calça. Na minha cabeça, a imagem que veio foi de um cadáver de criança enforcada. Colisss!!!(calice, palavrão québécois). Travou tudo por alguns segundos: cérebro, respiração, movimentos, etc. Depois que o cérebro processou a pegadinha, voltei a respirar e a descarga de adrenalina começou a fazer efeito. A Lara não imaginava que iria causar esse susto e a Mônica já havia caido nessa também antes de mim.
No dia seguinte, fomos à Regie de l'Assurance Maladie fazer nossa inscrição. La Carte Soleil (cartão de saúde) está nos fazendo falta, apesar de ainda estarmos no período de carência, porque ela é usada como documento com foto. Alguns estabelecimentos pedem dois documentos com foto e só temos o passaporte. Um aceitou a carteira de motorista brasileira como concessão e a Rogers aceitou o cartão de crédito brasileiro porque é internacional.
Todo mundo muito simpático, atendimento sem filas, ao contrário do que me disseram que é em Montréal, até que...
-Cadê seu C.S.Q. (certificado de Seleção do Québec) ?
-Não tenho. Fiz o processo federal.
-Só posso fazer sua inscrição com o C.S.Q.!
-Não tem algum documento alternativo que me permita fazer a inscrição sem o C.S.Q?
-Não! Me surpreende muito que você não saiba disso!
-A Soraya do birô de imigração do Québedc do Brasil me disse que eu não precisaria do C.S.Q. para nada, e um funcionário do M.I.C.C. (Ministério da Imigração e das Comunidades Culturais) confirmou isso.
-Eles trabalham com imigração e eu com assurance maladie.
-Mas realmente não existe nenhuma outra forma de se fazer a inscrição sem o C.S.Q.? Eu também estou surpreso com essa informação. Ahh ! Com o Certificado de Aceitação do Québec?
-Também não. Este é só para estudantes. Se você não tem o C.S.Q., você realmente não pode se inscrever. Se você quiser eu posso chamar a minha supervisora e ela vai dizer a mesma coisa a você.
De fato, a supervisora confirmou.
Nessas horas que somos pegos de surpresa, o cérebro não pensa claramente. A primeira ideia absurda que me passou pela cabeça foi procurar emprego em Toronto. E a segunda foi ter que voltar para o Brasil. Nem precisaria tanto. E lá fomos nós de volta para casa, andando os 800 metros. Dei uma passadinha no M.I.C.C. que fica pertinho daqui, uns 400 metros. Lá, uma funcionária que tinha sotaque e nome hispanico tomou as dores e ligou para lá indignada. Depois me deu o veredito. Bastava eu provar que residia aqui. Para isso, eu tenho o bail/contrato de aluguel e carta da HydroQuébec, a companhia de energia elétrica daqui. Realmente não precisamos de C.S.Q. para nada aqui, salvo os subsídios de universidade no primeiro ano.
Tabernake (palavrão québécois)!!! Eu não sabia se ficava alegre ou com raiva! Outra vez!!! Será que estão com medo do meu nome russo, resquício da guerra fria? Ou eu tenho cara de terrorista? Não. Acho que é porque tem muita gente fazendo o processo do Québec e indo para outras provincias, mas o meu caso que é o contrário, é muito raro.
Voltamos lá, mas dessa de ônibus descento na segunda parada. A supervisora se levantou do birô dela e veio para o lado das cadeiras de espera. Ela assumiu humildemente o erro e nos pediu mil desculpas pelos transtornos. A atendente também teve a mesma postura e ainda disse duas vezes: Eu aprendi. De quebra, deu papéis com desenhos para colorir e lápis coloridos para as crianças e adesivos colantes. No HSBC, fizeram o mesmo. Acho que é comum aqui, já que não tem babás para as crianças ficarem em casa.
A contagem do período de carência não bateu com os meus cálculos. O tempo foi considerado para todos a partir da minha data de chegada, mas, pelo que entendi, foi arredondado para uma janela e ficou como 28 de fevereiro. Cheguei em 15 de janeiro. Daí, estaremos cobertos a partir de primeiro de maio. O meu plano privado da GTA não vai cobrir abril, ao contrário dos demais. Vou ter que contratar esse mês possivelmente em alguma seguradora daqui.
Outra vez, mais um final feliz e um coração aprovado no teste prático.

Visita ao Aquarium


L'Aquarium


Chegando o fim de semana, é hora de fazermos o nosso papel de turista para conhecermos a própria cidade onde moramos. Também assumo o meu papel de repórter de blog. Il fait beau, il faut profiter/o tempo está bonito, tem que aproveitar. Este é o lema. Mas aproveito mesmo com qualquer clima. De fato, estava fazendo um sol lindo, mas sumiu enquanto iamos ao Aquarium.
Descemos na parada certa e esperávamos o ônibus no sentido indicado pelo Trajecto, a ferramenta de planejamento de rotas da RTC, a companhia de transportes daqui. Ele passou pontualmente como o indicado, 10 minutos após a nossa chegada. Porém, no outro lado da rua. O desconfiômetro disparou logo e o próximo para esta linha e no fim de semana, só passaria uma hora depois. Perguntei qual seria o sentido correto para uma mulher que estava na parada e ela não soube responder, mas deu a sugestão de perguntarmos para o motorista do ônibus que vinha. O cara foi super hiper ultra gentil. Ele disse que iria nos levar até o ponto onde pegaríamos outro ônibus da mesma linha, mas no sentido inverso. Pegou o guia da linha que nos levaria até o Aquarium, consultou os horários e disse que esperariamos somente 10 minutos. Quando fui colocar os bilhetes no cofre, ele disse que não era necessário. Foi realmente uma carona para nós quatro. De fato, 10 minutos depois, lá estava o ônibus.
Gastei muito palavreado só para deixar registrado o acontecido porque fiquei impressionado com a atitude dele.
Mas... voltando ao Aquarium, este tem uma estrutura moderna, com uma paisagem bonita com vista para as duas pontes de Sainte-Foy e o fleuve Saint-Laurent/rio São Lourenço. São três andares de vários animais aquáticos organizados por tipo de habitat. O mais interessante é o aquário invertido. É um túnel por dentro de um imenso aquário. O chamo de aquário invertido porque os peixes passam por fora nos olhando. Dá até a impressão de os ouvirmos dizer: Olhem que bichos esquisitos esses humanos! Ainda bem que estão presos lá dentro!
Fora do prédio principal, que tem uma lanchonete, tem uns tanques com focas. Interessante o fato delas nadarem olhando para o céu. Uma delas ficou sentada com a cabeça do lado de fora pousando para fotos. Em outros tanques, ficam as grandes morsas. Duas delas vieram aparecer para nós. Elas se deslocam no chão com dificuldade por causa do peso e da falta de patas. Mas depois de fazerem tchibum na água, ganham agilidade.
Na volta, passamos na área dos ursos polares. O filhote estava preguiçando, enquando o grandão (ou grandona) estava fazendo seus exercícios, andando para lá e para cá. As fotos vão contar melhor como é lá porque uma imagem vale por mil palavras.
Já na volta, esquecemos a programação original de ônibus e ligamos o modo improviso. Perguntei como faria para voltarmos para casa e a motorista deu uma alternativa pegando uma linha de ônibus comum. Perguntei se passaríamos perto da linha dos metrobus e ela disse que sim, mas não gostou de não seguirmos o roteiro sugerido por ela. Ela estava de mau humor e chegou a ficar calada quando fiz uma pergunta, mas nos avisou da hora de descermos e onde pegaríamos o metrobus. Foi a primeira vez que vi um motorista que não foi gentil, mas gente é gente. Ainda não disse mas faz parte do serviço "contratado" termos a orientação dos motoristas no mínimo para nos avisar quando estamos na parada certa para descermos. De vez em quando vemos as pessoas pedindo orientação aos motoristas.
Enfim, programa familiar interessante para  quem vem colocar na agenda. Para os metaleiros, o dinossauro do metal Iron Maiden e o metal progressivo do Dream Theater se apresentar por aqui no festival de verão. Uooohooo !!!!! No ano passado o Metallica fez apresentações em dois dias por aqui, provando que a cidade é pequena, mas está na rota dos acontecimentos. Afinal, aqui é a capital da província. Montréal é interior! Brincadeira gente! Sem provocações.