sábado, 28 de agosto de 2010

Atravessando por lá onde o rio se estreita




Québec, no idioma algonquine que era utilizado por algumas nações ameríndias daqui, significa "lá onde o rio se estreita". Esta parte do rio São Lourenço foi escolhida pelos franceses para começar a sua colonização no que hoje é a região da nossa capitale nationale (nota do tradutor: Essa eu não preciso fazer, né?).
Esse tipo de postagem é normalmente mais voltada para o lado turístico, mas vou também aproveitar o contexto para mostrar em um exemplo a diferença de visão dos administradores públicos daqui. Desde quando decidimos morar aqui que eu ficava intrigado com a seguinte questão: Porque tem duas pontes em uma parte do rio mais larga e já perto do fim das cidades se a parte mais estreita ligaria justamente o centro de Québec ao centro de Lévis? O raciocínio, moldado pelo ponto de vista que eu adquiri no Brasil seria de reduzir o custo de construção da ponte e ao mesmo tempo colocá-la onde tem mais usuários. Como diz o meu chefe: Make sense?/Faz sentido?
Já tinha esquecido dessa atroz questão filosófica que instigava minha irrequieta natureza analítica (nota do editor: Pô, cearense! Vê se não viaja muito!), quando escutei uma notícia ainda mais curiosa: Estão querendo fazer outra ponte, agora no outro extremo da cidade. Hein?! Ahh! Já sei! Já tem uma ponte até a Île d'Orleans, aí fica mais barato para fazer da ilha para a outra margem! Claro que não! Estragaria a tranquilidade da ilha!
Agora lascou mesmo! É a minha oportunidade de entender logo essa esquisitice. E porque não ligar o centro de Québec com o centro de Lévis e ainda aproveitar onde o rio é mais estreito? Parece mais lógico, não?
Isso seria ligar Vieux-Québec a Vieux-Lévis, que são as regiões mais antigas, com ruas mais estreitas e turísticas. Isso iria atrair mais tráfego justamente onde a cidade tem menos capacidade de escoá-lo. Seria matar o trânsito das duas cidades. A prefeitura está fazendo é o contrário! Tem a linha de ecolobus (pequenos ônibus elétricos) gratuitos que rodam Vieux-Québec até o traversier/ferry boat/balsa e voltam. Ou seja, se quiserem atravessar o rio por aí, pode e é viável, mas o projeto urbanístico desencoraja esse tráfego de carros para preservar a região. Também, o transporte coletivo é mais eficiente nesses casos.
Se bem pararmos para analisar, o Canadá é mesmo assim. Abrimos mão de alguns privilégios individuais e pagamos um preço para termos, por outro lado, benefícios coletivos. Só que o indivíduo participa dessa coletividade e ganha com essa troca. Esse é um dos segredos da qualidade de vida daqui, que não vem de graça, mas vale o preço.
Por falar em valer o preço, quando vierem por aqui, vale a pena fazer essa traversia até Lévis. A visão do imponente Chateau Frontenac no topo da alta encosta escarpada é imperdível. O traversier tem uma estrutura que me impressionou e é super estável. Não se percebe nenhum balanço. O rio é muito largo e podemos ver ambas cidades a partir de um ponto de vista novo. Legal também foi ver um navio cargueiro que passou justamente durante a travesia, que nos faz perceber que o rio é também bastante profundo. Só na situação é que percebemos que a manobra de chegada na outra margem é algo que exige perícia, pois a grande massa metálica vai de encontro ao concreto.
O meu colega de trabalho é que me conta como é viável morar em Lévis e trabalhar em Québec, seja passando de carro pelo traversier, ou indo de ônibus, ou mesmo contornando pelas pontes que ficam no fim das duas cidades, mas que não toma tanto do seu tempo. Em compensação, ele pode ter uma casa maior e melhor em Lévis. Afinal, a menor distância entre dois pontos, é uma reta, mas não é necessariamente a melhor distância entre eles.



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