quarta-feira, 28 de julho de 2010

Diferenças culturais



Esta postagem estava esquecida nos rascunhos. Estava guardando-a para o período entre o fim do processo e a nossa vinda para cá. Só que viemos antes da hora e esse período foi muito curto para isso. Desculpem a indecência da foto, mas a intenção é reforçar a ideia do choque cultural.

Encontrei em uma revista de turismo este guia do viajante bem-educado. Ele é muito interessante para nos abrir a percepção de que outros povos tem costumes e formas de interpretar nossas ações de maneira muito diferente da nossa. E isso pode chocar ou até virar um problema. Assim, é bom prestarmos atenção às reações das pessoas e tentarmos entender e respeitar a cultura local. Segue o artigo.

No México, quem bota as mãos nos quadris está querendo briga. Já na Coréia, assoar o nariz na rua é falta grave. Aprenda aqui o que é gafe em alguns lugares do mundo.

À mesa, com toda a fineza

Ainda que o molho seja irresistível, não limpe o prato nos países árabes. É terrivelmente grave e grosseiro comer tudo o que for servido.
Tampouco se atreva a limpar o molho do prato com um pãozinho, se estiver na Inglaterra. Ingleses detestam esses modos!
Já no Japão, raspar o prato e lamber os beiços cai bem. O anfitrião (ou o vizinho da mesa) acha indelicado deixar um restinho.
Na China, jantar é teste de resistência. Não há ofensa maior do que recusar comida – não importa o que seja. Engula!

Certas coisas proibidas em público

Se você estiver na Coréia do Sul, não assoe o nariz na rua. Lá isso é considerado ofensa gravíssima!
Não importa o quanto seja engraçada a piada que seu amigo contou. Jamais gargalhe nas ruas do Japão, principalmente se você for mulher (lembre-se que as japonesas sempre cobrem a boca para rir).

Veja lá o que você fala!

A menos que você seja um médico, jamais pergunte a um americano quanto ele pesa ou mede. É mais fácil ele contar algum segredo sujo do que revelar as medidas do corpo.
Ao telefone, em todos os países da Europa, você diz seu nome antes de mais nada. Mesmo que a ligação seja só para pedir informações.
Não elogie uma japonesa, nem que ela seja a musa dos seus sonhos. Ela vai achar que é falsidade.

Olhe a mão-boba

Na Tailândia, é muito indelicado ficar conversando com alguém com as mãos nos bolsos. Deixe-as bem à vista, sempre.
Também não coloque as mãos sobre as costas da cadeira na qual outra pessoa está sentada: para os tailandeses, isso é grave.
Mão no bolso, no México, é coisa de grosso. E se um homem colocar as mãos nos quadris e olhar para você, está chamando para a briga.

A arte de presentear

No Oriente, é fundamental dar ou receber presentes com as duas mãos. É sinal de apreço.
Se você não for da Máfia, nunca dê um relógio para um chinês: significa que deseja a morte dele.
Os chineses são mesmo cheios de dedos: antes de aceitar um presente eles recusam três vezes. Nem mais, nem menos.

Cada um no seu lugar

Os americanos odeiam quem vai abrindo caminho no meio da multidão. Peça desculpas a cada empurrão inevitável.
E olho no chão: americanos ficam muito, mas muito zangados, ao levar um pisão no pé.
Quando você está em pé, conversando com alguém, é normal um coreano passar no meio. Dê um passo para trás, para dar passagem. Na Coréia, é falta de educação alguém dar a volta por trás de você.

Despe$a$ men$ai$


Pergunta clássica: Quanto é que eu tenho que juntar para passar X meses sem renda aí? Resposta clássica: Não sei! Cada um tem uma despensa mensal diferente. Pronto! Fim da postagem. Espere ai, seu ignorante! Explique direito!
Era uma vez três porquinhos que imigraram para o Canadá. O primeiro alugou um studio de palha (único material  irreal) em Limoilou, o segundo alugou um 4½ de madeira e o terceiro alugou um 5½ en beton/de concreto em Montcalm (para saber o que são essas frações, consulte a postagem de perguntas mais frequentes). O aluguel é um componente de peso na planilha de orçamento mensal. Aqui em Québec, cujo custo de habitação é baixo, este começa em uns 400$ para um apartamento grande onde, em geral solteiros dividem o aluguel, cada um com um quarto em regime de co-locação (percebam o hífen). Também existe a possibilidade de alugar um quarto de casas grandes, cujos proprietários querem ter alguma receita. A vantagem desse esquema é que pode-se morar em bairros nobres, com boa localização e serviços. Um studio ou um 3½ pode custar a partir de uns 600$ em localização não muito nobre. Passamos a um valor de mettons/digamos 800$ para um 4½ em um bairro médio, normalmente de madeira (onde não podemos cavalgar por causa do vizinho de baixo), e chegamos ao valor de 1200$ para um apartamento desse século, que pode ser de concreto (aí sim! Podes usar até britadeira) em um bairro chicken, digo, chique. Como podem ver, uma variação de 200%. O que eu sempre recomendo é dar um passeio pelos sites de imóveis que têm fotos para criar um referencial de relação entre os vários aspectos como custo, localização, idade, tamanho, etc. Ufa! Esse parágrafo foi grande!
A água, pelo que saiba, está sempre embutida no aluguel. O aquecimento pode ou não estar embutido, que tem vantagens e desvantagens. Aqui, usamos gás, logo, a fornalha é coletiva, logo, nada de ajustes! Se o proprietário disser que a temperatura ideal é 20 graus porque é ecológico (mentira! É porque sai mais barato!), vais ter que usar calça, camisa de manga comprida e meião ou comprar um aquecedor elétrico suplementar. Em compensação, o aquecedor elétrico, que pode ser ajustado até por compartimento, tem o custo separado que varia de acordo com as estações e altera o orçamento. Este custo depende do tamanho do imóvel e da temperatura. Já ouvi algo como 40$ no inverno, mas também 250$. Não tenho muita ideia desse custo.
Por falar em energia elétrica, a nossa fica em torno de 40$/mês para uma família de quatro pessoas em um apartamento 5½. O curioso é que é cobrado acumulado a cada uns 3 meses para minimizar o custo de leitura dos medidores.
Gastamos uns 900$ de supermercado. Vi alguém dar como referência 250$ por pessoa, que bate mais ou menos com o nosso caso, mas não é lá muito linear e precisa. Para quem tem filhos pequenos, uma garderie/creche subsidiada custa uns 150$/mês (nosso caso, com tudo incluso) e uma não subsidiada uns 550$ a 650$. No caso da escola da Lara, pagamos pelo tempo extra que ela fica lá, mas não pagamos almoço porque todos nós, como manda a cultura daqui, levamos almoço no sac à lunch/lancheira ou merendeira (no Ceará). Dá 150$.
Contratamos a Vidéotron para tv a cabo com o básico (que só tem porcaria), mais o plus (que melhora um pouquinho), mais um pacote de 20 canais de livre escolha (aí é que está o bom) e Internet a 7,5Mbps reais e confiáveis. Por ser um pacote, tem descontos e sai a 90$/mês.
 Quanto à telefonia, optamos por um plano da Rogers com 200 minutos compartilhados entre os dois celulares e com ligação gratuita entre eles. Bina e caixa postal são opcionais e existem pacotes destes. No final das contas (com o perdão do trocadilho infame), pagamos também 90$/mês, mas já tinhamos os aparelhos. Tem gente que prefere o telefone fixo, como outros que fazem o plano de dados para usar o IPhone na rua. Daí o custo varia, mas vocês podem pesquisar via Internet e não é uma conta tão pesada.
Transporte? Andar a pé ou de bicicleta só gasta feijão! Se for andar de ônibus, aqui o bilhete custa 2,50$ mas podemos pegar um bilhete de transferencia para não pagar durante um mesmo deslocamento, mas tem regras para não ser usado para a volta. Se for usar frequentemente, vale a pena carregar o cartão de proximidade. Aqui a carga custa 74$/mês. Queres um caro? Digo, carro? Então bote aí a essence/gasolina e o seguro. Gasto um tanque por mês de absurdos 40$ (gasolina pura e de qualidade a 1$ por litro), mas a cidade é pequena e o transito flui bem. O seguro do nosso Kia Rio novo custa 75$/mês e tem desconto porque fizemos junto com o do apartamento, que custa 20$/mês. Você não vai querer pagar o prédio todo se pegar fogo a partir do seu apartamento, né?
Fora isso, tem que reservar dinheiro para as roupas. No caso dos homens, esse custo é zero. No das mulheres, uns 2000$/mês talvez não baste. Eita que agora eu perdi metade dos meus leitores! E também temos que reservar uma graninha para algum lazer, embora tenha até piscinas de graça aqui. Como todo mês aparecem gastos extra, eu costumo adicionar 10% como margem de folga.
A Mônica ainda não está trabalhando, mas estamos com um padrão de vida equivalente ao que tínhamos no Brasil, se contarmos os devidos ajustes de contexto cultural. Por exemplo, muitos apartamentos aqui só têm um banheiro e o nosso de mesmo tamanho no Brasil tem quatro (pra que isso tudo mesmo?). Também estou contando que tínhamos dois carros no Brasil, mas por obrigação. O segundo carro aqui para nós é totalmente dispensável e prefiro assim.
Agora vem o marketing da Mastercard: E a qualidade de vida e a nossa satisfação aqui não têm preço!

sábado, 24 de julho de 2010

Rapadura, please! Rapadura s'il vous plaît!



Aêêêêê!!!!! Finalmente achamos a danada da rapadura!! E não só ela, mas a farinha de mandioca, o Guaraná Antártica, a goiabada, o polvilho para fazer pão de queijo, dentre outras coisas. O caminho para as indias onde encontramos essas especiarias está no final da postagem.
A rapadura é colombiana, mas matamos a saudade. Por falta de ferramentas apropriadas, tive que quebrá-la com uma chave de grifo e muita porrada bruta!
A razão da escolha desse título para o blog foi ressaltar a mudança do nosso mundinho pequeno e regional para uma realidade bem mais ampla e universal. A ideia era criar a situação surreal de nos vermos pedindo um produto que é típico do Ceará, e que pensava ser algo bem restrito, porém usando o inglês e/ou francês para representar o fato de estarmos vasculhando o imenso mundo que existe fora da nossa restrita realidade. Pois bem, a riqueza cultural daqui é tanta que descobrimos que alguns alimentos que herdamos dos índios da nossa região são identicos a outros de países vizinhos da América do sul e Africa. A Mônica viu que os ameríndios daqui usavam o mesmo tipo de pilão que os índios cearenses usavam. E assim, todos somos bem diferentes, mas temos muita coisa em comum.
Só para dar uma ideia, hoje eu estava com as crianças no parquinho aqui perto e conheci uma mulher que nasceu na frança, morou 7 anos em Portugal e mora aqui há bons anos. Conversamos misturando português com francês porque ela não lembrava de muita coisa em português. Descobri que mesmo vindo de países desenvolvidos, ela tem suas motivações como a dificuldade de conseguir emprego na França e a vontade de conheçer lugares e pessoas diferentes.
Logo depois, conheci uma que veio da Colombia há 3meses e agora a conversa foi em espanhol e francês. O francês dela tem uma forte carga de espanhol, e descobri que infelizmente não consigo mais falar em espanhol, por isso misturei. (Nota do tradutor: Quer umas aulinhas, comedor de farinha?) Eu passava até uma hora conversando com argentinos, chilenos e outros vizinhos sem muito problema, mesmo que usasse umas palavras de português. Mas agora só aparecem palavras em francês, que atrapalha muito.
E assim vamos conhecendo um mundo de novas nuances a cada dia, tendo boas experiências, embora tendo também algumas dificuldades. Afinal, como dizem os cearenses, a rapadura é doce, mas não é mole não!

Marché Exotique La Fiesta
101, Rue Saint-Joseph Est
Quebec, QC G1K 3A8
(418) 522-4675

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Agora eu posso ser pobre!


No Brasil, o perfil de classes sociais que usam os meios de transporte é bem mais definido. Pessoas das classes mais baixas não podem comprar um carro e uma parte deles anda a pé ou de bicicleta por não ter como pagar mesmo o custo do ônibus. Por outro lado, quem pertence às classes mais altas não pode usar a bicicleta como meio de transporte do dia a dia por causa dos assaltos. E ao menos em Fortaleza, tem mais dois ingredientes: Trânsito caótico com motoristas mal educados e arrogantes e o calor infernal.
Aqui o uso dos meios de transporte é bem mais difuso (ah como eu queria ter esse vocabulário rico em francês!). Com um salário mínimo de 1600$/mês, carros usados a partir de uns 4000$ e o inverno rigoroso, os carros são mais universais. Mas também, anteontem mesmo eu vim para casa ao lado de um cara com roupas sociais que trabalhava usando o notebook em pleno ônibus. Isso não é raro. Aqui, ônibus não é veículo somente de pobre. Existe inclusive promoções para quem paga estacionamento no trabalho que pode experimentar ir de ônibus de graça por uma semana. Essa é a concorrência deles.
Também se vê muito as pessoas usando não só como diversão, mas como meio de transporte rotineiro bicicleta e mesmo patins.
Feita essa introdução para tentar fazer uma troca de contexto, agora vamos à boa notícia: A Mônica tirou a carteria de motorista daqui. Aêêêê!!! Fiquei muito orgulhoso porque muita gente reprova e ela teve a maior pontuação que eu já tive notícia até hoje. E agora, o carro é dela porque as suas aulas terminam no meio da tarde e fica mais cômodo para pegar as crianças nos dois sentidos, do horário e agora indo de carro.
Agora vamos ao choque cultural. Eu devia estar triste, não? Voltar a andar de ônibus? Eca! Coisa de pobre!! Eu passei um tempo deixando o carro na garagem e indo de ônibus por opção, já que este passa a cada, no máximo 10 minutos, vai de porta a porta e muitas vezes eu ia sentado e lendo. O carro é um treco esquisito. Gastamos energia (embora a gasolina aqui custe somente cerca de 1$ por litro) para fazer com que uma massa de em torno de uma tonelada se mova para transportar apenas algumas dezenas de quilos de carga útil e ainda poluindo. Sem contar com o sedentarismo que ele traz.
Mas eis que surge a possibilidade de eu fazer o que eu queria no Brasil e não podia. Ser chique como os cidadãos de países desenvolvidos e poder ir para o trabalho de... bicicleta! Isso! É saudável, divertido, econômico, ecológico e até seguro! É um meio de transporte inteligente. Com apenas 140$ comprei uma bicicleta com quadro de alumínio, bem leve, com suspensão dianteira e traseira. Muito barato! Moro a apenas 3Km do trabalho, vantagem das cidades menores, tem vias cicláveis, ruas que quase não têm movimento e motoristas que respeitam. O único problema, que vai se resolver com o tempo, é que moramos na cidade alta e trabalho na cidade baixa. O desnível é grande. Para ir é uma maravilha! Metade do caminho é descida e chego nos mesmos 15 minutos de quando ia de carro. O problema é a volta! Haja fôlego! Mas a ideia é essa mesma! Exercício é saúde!
Escolhi esse tema como forma de ilustrar que os contextos dos dois países são muito diferentes e quem vem para cá tem que estar de cabeça e espírito abertos para se adaptar melhor. Vai ter gente que vai entender que para mim foi uma mudança que eu queria desde o começo, outras vão torcer o nariz e outras vão me chamar de mentiroso porque simplesmente não bate com o paradigma brasileiro. C'est la vie!/É a vida!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Quem é fanzão do trio de rock progressivo Rush sabe que esse título é código morse e que significa YYZ. Este código transcrito para uma partitura vira a introdução da música de mesmo nome. E assim começa a minha simpatia pelo Canadá, ainda na adolescência, enquanto eu tocava algumas músicas deles com a minha primeira banda.
Quando a perspectiva de vir morar aqui ficou mais concreta, meus amigos começaram a perguntar: E ai? Será que vais poder assistir a algum show do Rush? Se der certo... E também descobri que YYZ é o código do aeroporto de Toronto, quando procurava voos para cá.
Pois bem, deu certo! E mais fácil, barato e rápido que o que eu imaginava. Foi meu presente, exatamente no dia 15 de julho, quando eu completei 6 meses de Québec. Nossa! Como passou rápido! Daqui a pouco faremos um ano aqui.
Por falar em meio ano de Canadá, a ida ao show me lembrou algumas coisas do Brasil, resalvando as devidas proporções! Ônibus cheios. Pela primeira vez vi ônibus realmente cheios, porém, dava para ficar apenas com contatos ocasionais e não amassado. E o motorista determinou que o mesmo que estava lotado e nem abria mais a porta. Fazia um calor desgraçado, mas para os padrões daqui. Tinha engarrafamento, pessoas desrespeitando a faixa prioritária de ônibus e táxis, mas só até uma certa distância da área do show. Tinha molecagem dentro do ônibus, mas muito mais branda que a que conheço. No local, latas de cerveja e garrafas pelo chão, sim! Aos montes! Afinal, show é show. Bom, enfim, nada que eu não esperasse ou que me decepcionasse. Apenas avisando que aqui não é um lugar de robôs pré-programados para serem super certinhos. Gente é gente no mundo todo. Mas quando cheguei nas imensas filas sendo respeitadas, percebo que realmente não é a mesma coisa. Mas a discussão de povo alegre ou frio e certinho ou errado fica para outra postagem.
Plaines pleins/Planos (d'Abraham) cheios e sem chuva. Perfeito para um show de 3 horas! Quack! Nem sabia que existiam shows tão longos assim! Só assim dá para tocarem as melhores músicas dessas mais de quatro décadas de carreira. Nada mal, hein?
O Geddy Lee (o vocalista, baixista, tecladista e outros istas) começou falando uma frase em inglês e outra em francês. E eu lá pensando: Que legal! Os discursos do primeiro ministro parece que são alternados assim também. A visão do Canadá neutro, bilíngue, respeitando a diversidade! Bullshit!/Pø##4 nenhuma! Logo em seguida ele diz em inglês: Desculpem! O meu francês é ruim! Que decepção! O cara mete uns trechos em francês nas músicas, gravaram um dos albuns mais conhecidos aqui no Québec, culto, canadense e com um bocadinho de primaveras. Eu jurava que ele falava francês! Isso depois de ter ouvido o Bruce Dinkson (vocalista do Iron Maiden) que é inglês falar pelos cotovelos em francês, deu vontade de chamar o Geddy Lee de Jegue Ali!! Mas deixando de ser cri-cri, nesse show tinha muita família inclusive com crianças sentados em toalhas como em pique-nique. Tinha até bebês! Realmente um ambiente tranquilo.
A única brabice que fiz dessa vez foi entrar na fila da barraca da Molson Dry. Sabia lá o que era isso! Estava fazendo calor e eu queria tomar um refrigerante. Chegando perto é que o desconfiômetro alertou. Mas já tinha passado um tempão e estava com sede, agora vou beber, seja lá o que for! Era cerveja! Eu sei! Eu sei! Nada demais! É que não costumo beber, com meia lata o chão já está balançando sem terremoto e com a lata terminada, já me sinto surfando no Havaí. Mas fiquei paradinho e deu tudo certo. Não tropecei em ninguém.
Na volta, a mesma coisa do outro show. Muita gente nas ruas e nos bares, restaurantes e afins da Grande Allée, e um passeiozinho a pé para casa, afinal, esse caminho deserto já é seguro, ainda mais cheio de gente.
Não fui aos shows do Billy Talent (Canadá), Santana, Black Eyed Peas e Rammstein (Alemanha), mas o Dream Theater, Iron Maiden e Rush, dos quais eu sou fanzão há muito tempo, foram inesquecíveis. Afinal, tanto as tristezas quanto as alegrias fazem a nossa vida de imigrante ser mais intensa.








quarta-feira, 14 de julho de 2010

Festival d'Été




Malade!!!/Irado!!! 11 dias de shows de várias bandas, dentre elas, as atrações internacionais Iron Maiden, Dream Theater, Rush, Santana e Ramstein. Muita gente, muita energia, muito metal na veia (não confundam com véia!) e tudo isso por apenas 60$ + uma garrafa! Depois eu explico o lance da garrafa.
Quando eu tinha lá meus 15 a 16 anos, era fanzão do Iron Maiden e do Rush. Alguns anos depois, o Dream Theater. Quem é de Fortaleza sabe que esta não entra nas rotas das grandes bandas, logo, assistir shows de nossos ídolos era algo meio utópico, a não ser que pagasse para ir a São Paulo, por exemplo, para assistir ao show. No meu caso, estava já conformado que nunca teria esse privilégio.
Como diz a propaganda, realizar esses sonhos adormecidos desde a adolescência não tem preço!
Voltando ao show, choveu quase os dois shows todos, mas eu achei foi bom. Como vocês já sabem da postagem da canicule/onda de calor, aqui está fervendo. Ainda é meio esquisito para eu que cheguei no meio do inverno sair à noite de sandálias, bermuda e camisa. Levei o casaco de chuva, mas deixei-o amarrado na cintura para poder curtir a chuva. É uma filosofia que peguei desde quando encontrei a frase "Some people feels the rain, other just get wet"/Alguns sentem a chuva. Outros somente ficam molhados". Pois bem, lavei a alma!
Estou aqui há praticamente meio ano e ainda tive um bocado de choques culturais em uma só noite. Vi um policial derramando uma garrafa de bebida alcólica de uma mulher. Segundo o meu colega de trabalho que estava no show, é proibido beber em locais públicos. Eles são tolerantes a essa lei, mas se perceberem que está passando do ponto e que pode virar um problema, eles tomam. Se fizerem baderna, ai sim, a pessoa pode ser presa e enquadrada por essa lei. Dentro do imenso espaço de shows, no Plaines d'Abraham,  as pessoas podiam comprar e consumir bebidas. E até encontrei gente caido de bebada. Mas mesmo assim, três horas de shows, 80.000 pessoas (a cidade só tem 500.000!) e nenhuma confusão! Incrível! Por isso é que tinham até crianças e pleno show de heavy metal. Essa outra nem é choque cultural, apenas que eu não ia a estádios no Brasil para saber. Fui com uma garrafa de alumínio e tive que deixá-la na entrada. Pensei que fosse por causa do conteúdo mas a mulher me disse é que ela poderia ser arremessada. Ops! O ingresso ficou 9$  mais caro, mas está ainda muito barato.
E os choques continuam. Esperei até a lasanha ficar pronta, e sai sem tanta pressa, contando que o show ia atrasar ao menos meia hora. Que nada! Perdi meio show do Dream Theater!! Calvaire!!/$?%$#*@!! Meu colega explicou: O show tem que começar na hora porque tem que terminar na hora. Os moradores da região têm o direito de dormir! Ahh e aqui lembram também de quem quer dormir?!?! Aviso aos navegantes: Salle d'eau/Sala de água, mesmo que tenha os simbolozinhos padrão de banheiros, só serve para lavar as mãos e se pentear. O resto é nas cabines. Outra coisa legal é o lasse passer/deixa passar, que é um broche que tem uma luz vermelha piscando e que faz um efeito muito legal quando está escuro e vemos um mar de vagalumes vermelhos. Também igualmente interessante é o mega-telão imenso que tem mais longe do palco, além dos outros três, acho. O show correu risco de se cancelado se tivesse raios, mas São Pedro deu uma forcinha para que tudo desse certo e mesmo a volta para casa, que podia complicar por causa de tanta gente ao mesmo tempo, foi moleza. Afinal, o que são dois kilômetros para quem passou um bom tempo andando kilômetros na neve fofa com as botas pesadas todo dia?
Outra coisa que me surpreendi foi que o Bruce Dinkson, vocalista do Iron Maiden fala francês! E não é aquele lance de falar algumas frases decoradas. Ele conversou bem com o público. Só faltou avisarem para ele que aqui ninguém fala "irrrón medém" com a pronúncia afrancesada como na França. Aqui, em geral, se pronuncia as palavras do inglês em bom inglês. "Le cœur du metal canadien est au Québec!/O coração do metal canadense está no Québec!". Vocalista tem que fazer um marketingzinho sendo puxa-saco, né?
Foi bom descobrir que Québec, apesar de pequena, tem seu espaço nesta vasta América do Norte. Até porque é a capital da maior província em superfície e a segunda maior economicamente. Senão, ia dar trabalho para eu realizar mais esses sonhos. Se no show eu senti saudades dos cabelos até o meio das costas que cortei pouco antes de vir para cá? Sim! Claro! Mas mesmo assim pude gritar MetAAAAAAALLLLL!!!!





quarta-feira, 7 de julho de 2010

Canicule de verão


Canicule é quando o capeta sobe do inferno para cá, montado em um dragão cuspidor de fogo, saindo de um mar de lava vulcânica no meio de um incêndio florestal. (Nota do redator: Bebeu cachaça, cabeça chata? Canicule é uma onda de calor). Bom, é quase a mesma coisa. Dizem que tipicamente dura de 3 a 5 dias, sendo o mais demorado registrado aqui de 10 dias. A temperatura fica alta en tabernake/prá @#&%$*! durante o período todo. Chegou a +34°C neste terceiro dia de cinco previstos que, com a alta humidade que faz parte do pacote infernal, deu uma sensação térmica de +44°C. Percebam que eu coloquei o sinal de positivo e o C para dizer que é na escala de graus Celsius para não terem dúvidas! E olhem que já são 22h00 e ainda está fazendo 30°C lá fora e 29°C aqui dentro. A temperatura já bateu o récorde.
O site do MéteoMédia, que acompanho diariamente antes de sair de casa (Que roupa usar? Vai chover?) mostra atualmente um alerta de calor e humidade perigosos. E pior que não é só aqui. O dragão cuspiu no sudeste do Canadá e nordeste dos Estados Unidos. Ou seja: Québec, Montréal, Toronto, Ottawa, New York, etc. A galera de Vancouver está escapando um pouco mais. Nem em Fortaleza está fazendo tanto calor assim. Eu acompanhei durante o dia de hoje para ter certeza.
Solução 1: Dormir na banheira. Tem o risco de afogamento;
Solução 2: Dormir com o ventilador. Não funciona mais porque está parecendo um secador de cabelos;
Solução 3: Dormir dentro da geladeira. Peraí né! Sou magro mas nem tanto assim;
Solução 4: Comprar um climatiseur/condicionador de ar de 100$, que resfria bem um quarto (tá bem geladinho, só me esperando!) e ameniza uma sala grande, tão fácil e prático de instalar que o fiz na janela da sala e depois na do quarto, com a energia de custo absurdamente baixo daqui. Hum.... estou em dúvida...
Na primeira Sears onde fui, só tinha os modelos de mais de 300$ e muita prateleira vazia. Na segunda, encontrei quatro. Quando o cara terminou de atender um casal, eu e mais dois pegamos rapidinho as caixas e corremos para o caixa (poxa! Essas repetições estão me perseguindo!). Três condicionadores de ar no mesmo balcão de vendas, ao mesmo tempo, em uma loja quase vazia.
As prefeituras de Montréal e Québec estão tomando providencias como manter locais refrigerados para a população, as piscinas públicas (aquelas que mesmo as mais pequenas têm até dois salva-vidas) estão abertas por mais tempo, e os policiais e bombeiros vão fazer um porta-a-porta para averiguar o estado de saúde da população e dar informações de como se precaver. Eles encorajam até a visitar o vizinho idoso para saber se está tudo bem.
Taí uma coisa da qual eu não tenho um pingo de saudade é do calor de Fortaleza! E olhe que dizem que o Hell de Janeiro (Nota do suado tradutor: Trocadilho de Rio e Hell, que significa inferno) chega a ser pior. Acho que São Pedro ainda não sabe para qual lado virar os botões do clima aqui no Canadá porque eles devem ser "simples" como os da nossa máquina de lavar: C/F W/T H/C. Não entendeu? Eu demorei uns segundinhos: Cold/Froid/Frio Warm/Tiède/Morno Hot/Chaud/Quente. Fácil, não?

De sem a cem


Há 15 meses atrás, modestamente começamos o nosso bloguinho. Muito sem graça, eu diria, já que normalmente começamos sem muito o que repassar para quem lê. À medida que passamos pelas fases do processo de imigração e coletamos informações não só sobre esse, começamos a sentir a necessidade de repassar essas informações para os outros.
Pois bem, esta é a centésima postagem desse blog. Sim! Demorou a chegar nesse patamar, eu sei. Mas muito pela forma com a qual eu trabalho o conteúdo. Muitos blogs tem postagens bem curtas e eu vou contra a natureza dos blogs. Eu falo muito, logo, escrevo muito! Também, por ser perfeccionista, acabo exagerando o custo da sua produção. Para uma postagem simples e "rápida" como essa, faço um planejamento de um minuto, escrevo, reviso o conteúdo e depois a forma, escolho uma imagem e pronto! Está no ar. Mas tem postagens bem "caras". Essas começam pelo meu hábito de andar sempre com a máquina fotográfica, tirando foto de tudo que é curioso. Estes casos demandam primeiramente uma pesquisa, um planejamento mais minuncioso, seleção de fotos, inclusão dos rótulos, transferencia para o site do Picasa, seleção de vídeos, edição desses (em poucos casos), transferência para o Youtube, que demora uma eternidade, escrita, revisão do conteúdo, revisão da forma, revisão dos termos em outros idiomas, adição de links, inclusão das fotos do Picasa, inclusão do(s) vídeo(s) do Youtube e dormir uma hora da madrugada para acordar às 05h45 do outro dia como o que está acontecendo exatamente agora.
O resultado desse trabalho pode ser medido em um total de 10.624 visitas e 20.109 page views/visões de páginas desde quando começei a medir, em julho de 2009, coincidentemente há um ano atrás. Só no mês passado, foram 1.655 visitas e 2.957 page views e todo mês esse número aumenta, à exceção de fevereiro de 2010 porque foi o mês seguinte à minha chegada aqui e isso causou um pico atípico (a repetição foi acidental, mas deixei de propósito!).
E qual a receita para ter esse nível de difusão? Simples! Eu também sou leitor de blogs de imigração do Canadá. E enquanto eu ainda estava no Brasil, eu tinha muita curiosidade de saber como era a vida aqui. E nem tudo era dito nos blogs. Por isso, desde o começo o blog nasceu com o foco no leitor e não no escritor. Nem todo mundo pode visitar o Canadá antes de imigrar, e mesmo assim, morar é bem diferente de passar uns dias. Por isso, procuro passar da melhor forma que posso a experiência de viver aqui, desde os assuntos mais frequentemente abordados aos detalhes mais desconhecidos. Assim, o leitor pode através dessa visão ter um sentimento mais próximo para embasar e antecipar essa decisão tão séria que é imigrar.
Penso que a satisfação não é somente minha. Por isso, enquanto puder, vou continuar escrevendo as páginas desse livro da saga de uma família de retirantes cearenses, comedores de rapadura, rumo à terra onde a Cana dá.
Obrigado, por estar aí do outro lado, caro leitor. Quando chegar em 200 eu aviso!

domingo, 4 de julho de 2010

Je m'appele Алексе́й


Desde pequeno que eu sou muito curioso. E uma coisa eu adoro é conhecer diferenças culturais. Muitas coisas surpreendem por serem totalmente direrentes e outras até por serem quase iguais. Neste ponto, países que têm muitos imigrantes como o Canadá e a Austrália são um prato cheio. E olhe que Québec tem um percentual baixo comparado aos grandes centros.
Pela primeira vez, alguém disse o meu complicado nome com mais certeza e naturalidade que eu mesmo! Fomos visitar uns amigos da turma de francisação da Mônica que são ucranianos. E, como meu nome é russo, para eles é tão comum quanto Antônio. É o tipo de socialização (sem confundir com socialismo!) muito interessante, porque nenhum entende o outro se não falar em francês. Nada contra ter amigos brasileiros, que tenho aos montes, mas entre brasileiros, quase sempre só se fala em português. Sem falar da riqueza cultural da experiência. Logo que o nosso amigo também adora explorar essas nuances culturais.
É legal por exemplo, quando o russo-ucraniano falou algo como brrrót, por não lembrar como se fala irmão em francês, e eu entendo por "semelhança" com brother do inglês e com bruder do alemão. Ou também quando ele falou algo como sóc e eu pensei que ele estivesse tentando falar suco em português, mas é suco em russo! Sem contar no teclado do computador e nos mapas que ele me mostrou tudo com o alfabeto cirílico, que segundo ele, veio do grego.
A sopa de legumes estava bem esquisita. Nunca vi nada parecido, mas era gostosa. Em compensação, quando respondi que os carros no Brasil custavam mais que o dobro dos daqui, e eram pequenos com motores fraco por causa do preço da gasolina, ele riu e disse: Ahhh!! É igualzinho na UkRRRRaine!
Agora o mais importante da estória. Eles moram longe, andam demais para deixar e pegar a filha na garderie/creche, guando chegar o inverno vai ser ainda pior, e nenhum deles tem a permis de conduire québécoise/carteira de motorista quebequense. A Natasha, que agora se chama Nataliye ou Nataliya (uma comédia ver a filha de 13 anos ensinando o pai a escrever o nome da esposa!) já fez a prova prática e foi reprovada. E está pagando 60$ por hora aula de um professor particular. Imigrante em geral sofre um bocado no começo, então, entendi que uma das nossas missões aqui é ajudar no que pudermos os nossos colegas, mesmo que tenham vindo do outro lado do mundo. Vou dar aulas de direção de graça para ela segundo as regras de trânsito daqui e vamos ver se eles poderão finalmente comprar um carro, reduzir o fardo do dia a dia e poder desfrutar mais da nova vida. Façamos a corrente do bem para propagar a ajuda que recebemos e repassá-la para os que chegam aqui, afinal, somos todos irmãos, frères, hermanos, brothers, bruders e até mesmo bRRRóts!

sábado, 3 de julho de 2010

Farofa cearense made in Africa


-Mônica, ainda num tinha acontecido, mas bateu uma saudadi da farofa du Ciará! -Vixe Maria! Eu também! -I ondi é que nóis vamu incontrá farinha de mandioca aqui? (Nota do tradutor: Hein? O que é isso?) -Bom, tem umas épiceries aqui no jornalzinho (Nota do tradutor: Ahh! Isso eu reconheci. É francês.São lojas que vendem temperos e outros produtos para cozinhar. "Especiarias").
Lái vai eu procurá a farinha di mandioca. -Je cherche fareine de mandiocá, s'il vous plaît. -Quoi? Ops! Achu qui num tá in francêis ainda não. Mas num tinha mermu! Di épicerie in épicerie, i di pergunta in pergunta, descobri qui u nomi certu era farine de manioc. Mais só mi mostraru fecule de manioc ou farine de tapioca (Nota do tradutor: Não vou traduzir porque são cognatíssimos! Isso mesmo, aqui tem tapioca, mas é tipo um iogurte com grãos da goma de mandioca). Quarta épicerie i néca! Arri égua! Ao menus a muié mi deu u endereçu di outra qui ela acha qui teim. (Nota do tradutor: AAAHHHH!!! Que droga é essa! Desisto! Tchau!).
Ô ruazinha fia duma égua! Curva prá lá, curva prá cá e nada du número 92! Opa é aqui! "Epiafrica. Marché Exotique International (afro-latino-américain)". Direpenti, o cabra mi mostra um saco i diz: -Não sei se é exatamente o que queres, mas é isso o que eu tenho. -I cadê u nomi? Quiria confirmá qui era di mandioca mermo. -Está aqui! -Gari?!?!?! -Sim! -I é di mandioca?-Sim! Tá bom.
Pensi numa farofa só u mi! Matamos a saudadi e já sabemu ondi é qui tem. A Mônica dissi qui in outra tem até rapadura! Mininu!!! Tamu cheganu pertu! I aqui in Québec!
Se você não é cearense e teve o saco de ficar tentando decodificar até agora, vai saber que foi com duplo propósito. O primeiro é saber que mesmo as coisas mais regionais e/ou específicas podem ser encontradas aqui, mesmo sendo uma "cidadezinha" de 500.000 habitantes e não um dos grandes centros. Não garanto tudo, claro!
O outro propósito é fazer um paralelo entre o francês québécois e o que se fala no Ceará. Entre o português neutro ("standard") e o extremamente regional, já bem povão e que é considerado um dialeto e não somente um sotaque, existem uma imensa gama de possibilidades. Inclusive uma mesma pessoa pode variar a forma de falar de acordo com o público alvo, atenuando ou refoçando o dialeto.
Pois o que acontece aqui no Québec é semelhante. Nos noticiários, ouve-se um francês standard ou internacional bem parecido com o da frança, que também tem lá suas variações. Já o fazendeiro do interior ou mesmo o povão das cidades maiores pode chegar no extremo que é o joual que, por incrível que pareça, é uma deformação da palavra cheval............ ou cavalo. Cadê o tradutor?
Então, muitas vezes o que se diz que é isso ou aquilo denominando de francês québécois na verdade faz referência ao modo mais regional de se falar, mas o modo mais standard que os jornalistas usam também é québécois, assim como nem todo cearense fala dirliga u rezistru (desligue o registro).
E cadê a rapadura? Se eu achar, em aviso!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

E a porta do Canadá se fecha mais


Eu peço desculpas pelo atraso nas postagem de notícias como a do terremoto e esta. Da próxima vez vou escrever algo curto mesmo para ser publicado no mesmo dia.
Bom, a novidade não foi nada boa para quem ainda vai começar o processo de imigração para vir morar aqui. O governo canadense fez outra mudança no processo federal e reduziu a já curta lista de 38 profissões admissíveis em vigor desde 27 de fevereiro de 2007 para somente 29 nos processos recebidos a partir de 26 de junho de 2010. Eis a página oficial e esse é um artigo com a explicação do ministro.
A única profissão da área de informática foi sumariamente extinta. Ela tinha uma grande fatia dos processos pela facilidade de se conseguir emprego e falta de regulamentação, que permite começar a trabalhar imediatamente sem burocracia. Isso pegou muita gente de surpresa e causou uma enorme frustração em quem se preparava para começar a materializar o sonho.
Alexei Nostradamus prevê o seguinte: a quantidade de processos do Québec vai aumentar e o percentual de pessoas que vai fazê-lo com intenção de ir para outras províncias também. Grande dedução, mestre! Ohh!! Agora já especulando bastante e sem nenhuma base, eu penso que o processo do Québec pode acabar mudando também para se adequar à essa nova realidade. Algumas ideias nebulosas que passaram pela minha cabeça: acabar com as entrevistas e exigir teste de proeficiência; aumentar o grau de exigência desse teste para não precisar gastar com a francisação. Esse ponto também favoreceria a redução da utilização desse processo como porta dos fundos para ir para outra província, já que os candidatos teriam que investir mais no francês. Outra coisa que poderia acontecer também é aderir ao modelo de lista fechada de profissões, a exemplo do processo federal. Em compensação, eu maneraria na queda abrupta de pontuação da idade após 35 anos.
Não se desesperem pelos meus devaneios agourentos, mas também não se confiem de que as portas vão sempre estar abertas porque, como podemos ver, os processos se adaptão às mudanças de cenário.

Canada Day


Aqui em Québec, a cidade estava cheia de bandeiras e o povo passou o dia nas ruas por causa do Canada Day.
Agora vamos colocar os pingos nos Is, já que pela revisão ortográfica, não existe mais tremas nos Us. As bandeiras são as da fête nationale/festa nacional do Québec, que ainda estão lá desde o dia 24 de junho, inclusive no nosso balcon/varanda. Bandeiras do Canadá, salvo onde teve uma tímida celebração oficial, só as que já existiam mesmo.
Quanto ao povo nas ruas, na verdade não estavam comemorando o Canada Day que, propositalmente escrevi somente em inglês. Aqui no Québec, o Canada Day é mais o dia de se mudar. Este artigo da Wikipedia o chama de Fête du déménagement/Festa da mudança.
Vamos começar do começo para explicar o fenômeno. O Canadá é um país com duas nações, fato este que foi oficializado há poucos anos. É bem fácil nomear a nação québécoise, descendente de franceses. Porém, é difícil de denominar o resto. Canadá menos Québec? Aí vocês dizem: anglófonos! E o lado anglófono de Montréal? Um pouco por isso, outra parte por questões separatistas mesmo, Canadá (que estou escrevendo cada vez mais esquecendo o acento. Se não fosse a revisão!) também significa a outra nação que habita o pais junto da nação québécoise.
Ponto número dois: Os franceses colonizaram primeiro a América não-hispanica e depois foram subjulgados pelos ingleses. Somado a isso, até décadas atrás, existia uma opressão destes e os québécois mais velhos que viveram estes tempos ainda remoem este rancor.
Conclusão: Que sentido faz comemorar o dia da rainha da Inglaterra? Melhor batizá-lo de dia dos patriotas. Por falar nela, a Elisabeth II está visitando algumas provincias do Canadá como já o fez outras vezes, mas não pisa no Québec, claro! A popularidade dela aqui não é das mais altas.
Pois bem, a concetração de contratos começando justamente nesse dia é uma conveniência de uma data chave, por ser dia primeiro, com o fato de ser no verão, ou seja, férias. Mas, também é uma forma de protesto, manifestado através da indiferença, por ter bem mais significado para a outra nação. Inclusive, vossa majestade, que curiosamente ainda é rainha do Canadá também (quack!!! Também da Austrália, Nova Zelandia, Jamaica e uma pancada de outros países) estava lá na festa em Ottawa. Lá sim, teve festa como a fête nationale/festa nacional daqui. Viu? Fica bem mais como cara de uma festa para cada nação que a festa do país todo.
Voltando ao que aconteceu. Teve um desfile militar e uns brinquedos infláveis no parque, mas até a chuva apareceu para minimizar o evento. Sim! São Pedro também é souveranist/separatista. Vive la pluie libre! (nota do tradutor: Esse chato faz a brincadeira e eu que me arrebento para explicar em poucas palavras. "Viva o Québec livre" é o slogan dos separatistas por causa da frase dita em 1967 por Charles de Gaulle, que era o presidente da França). Vale ressaltar que, apesar de às vezes parecer, eu não sou separatista!
Por outro lado, o começo da ave. Bevédère tinha congestionamento de caminhonetes, reboques e furgões. Uma loucura o dia todo! Eu também fui participar de uma mudança, mas foi leve porque os nossos amigos já pegaram um apartamento com a parte pesada toda resolvida. É! Pegar no pesado! Aqui, cerca de 70% das mudanças são feitas pelas proprias pessoas, sem contratar empresas. Apenas alugam os veículos, quando não conseguem emprestado. Faz parte da filosofia do faça você mesmo. Estou devendo falar sobre esse assunto.
Por isso, se quiserem saber como foi o Canada Day, infelizmente terão que procurar o blog de alguém que more no "Canadá", porque aqui o que se via mesmo era a fête du déménagement e muita gente pegando no pesado!